Um olhar interior...

Terça-feira, 22 de Dezembro de 2009

Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida verdade, o Sentimento!
-- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
-- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

                            Florbela Espanca

publicado por AIMSF às 13:24
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Sábado, 28 de Novembro de 2009

 

 

 

 

 DESEJO UM BEIJO TEU... Meu Amor


Tua boca tem o sabor do mar
A magia e os mistérios dos oceanos profundos...
Mergulhar nesses lábios
É subir aos céus e...
E em seguida descer ao inferno...
Inferno criado por tua ausência.

Desejar um beijo teu, meu amor,
É sentir a maciez da tua boca
Carnuda,
Sedutora,
Infernal.
É sentir o toque dos teus lábios
Nos meus olhos fechados
Ouvindo tua voz macia dizer, perguntar,
Que foi que aconteceu para eu gostar tanto assim de ti?

Nesse dia especial,
Desejar um beijo teu, meu amor,
É sentir todas as formas de beijar...
Beijos cálidos, quentes...
Do amigo, amante...
Beijos puros, doces que acalentam
E me fazem dormir depois do cansaço.

Desejar um beijo teu, meu amor,
É sentir por todo meu corpo
A caricia dos ventos suaves
Nas noites de calmaria...

Mas, desejar um beijo teu, meu amor,
Como desejo agora...
É sentir a violência dos ventos uivantes
E o calor do SOL
Que me dilaceram as carnes,
Os sentidos...
Fazendo-me perdida entre esse beijo...
E, o desejo de te possuir com outros beijos...
Beijos,
Beijos,
Beijos...

 

Reinadi Sampaio (eu flor-caminho só)

publicado por AIMSF às 22:23
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Quarta-feira, 25 de Novembro de 2009

 

 

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,

 

E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.

Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,

 

E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.

Amar é pensar.

 

 

E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.

Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.

Tenho uma grande distração animada.

 

Quando desejo encontrá-la

 

Quase que prefiro não a encontrar,

Para não ter que a deixar depois.

Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.

Quero só Pensar nela.

 

 

Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.    

 

 Alberto Caeiro- heterónimo de Fernando Pessoa

 

publicado por AIMSF às 10:17
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Sexta-feira, 20 de Novembro de 2009

O Amor e a Amizade

 

Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
 

O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
 

No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
 

O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
 

Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
 

Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.

 

William Shakespeare

 

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Segunda-feira, 16 de Novembro de 2009

 

Ela Canta, Pobre Ceifeira

 

 

Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,

Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.

Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!

Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

publicado por AIMSF às 16:40
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Segunda-feira, 2 de Novembro de 2009

 

 

A noite desce...

Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce... Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!

Assim mãos de bondade me embalassem!
Assim me adormecessem, caridosas,
E em braçadas de lírios e mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!

A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!

E a noite voi descendo, muda e calma...
Meu doce Amor, tu beijas a minhalma
Beijando nesta hora a minha boca!
 

 

Florbela Espanca

 

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Sexta-feira, 30 de Outubro de 2009

 

Não te Fies do Tempo nem da Eternidade

 

 

Não te fies do tempo nem da eternidade
que as nuvens me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo.
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!

Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!

Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo...
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te digo...

Cecília Meireles, in 'Retrato Natural'

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Terça-feira, 27 de Outubro de 2009

Sentei-me à beira-mar

 

Sentei-me à beira-mar

O sol batia-me no rosto.

O vento fazia-me arrepiar…

Olhei em teus olhos

Vi-me reflectida em ti.

Suavemente tocaste na minha mão

Estremeci… Corei... Sorri…

Ninguém controlava aquela situação

Ninguém sabia onde ia parar…

Um leve suspiro…

Uma momentânea troca de um olhar…

E tanto que eu te queria dizer…

Dei por mim na tua boca

Um toque… um beijo…

Nada mais ficaria por dizer

Sentias o meu desejo

Era mais do que podias saber…

Queria-te mais que tudo…

E ali ficamos… olhamos o horizonte

Abraçados… longe do mundo

Entre beijos e olhares e carinhos

E palavras sinceras que saíam…

 

É assim que me fazes sentir

É assim que quero estar

Junto a ti… sentir-te… beijar-te…

Estarei a sonhar? Sim, estou…

Mas estamos quase a acordar

E um no outro vamo-nos saciar…

 

 

Ass: Vânia


 

publicado por AIMSF às 14:56
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Quarta-feira, 21 de Outubro de 2009

 Elegia do Ciúme

A tua morte, que me importa,
se o meu desejo não morreu?
Sonho contigo, virgem morta,
e assim consigo (mas que importa?)
possuir em sonho quem morreu.

Sonho contigo em sobressalto,
não vás fugir-me, como outrora.
E em cada encontro a que não falto
inda me turbo e sobressalto
à tua mínima demora.

Onde estiveste? Onde? Com quem?
— Acordo, lívido, em furor.
Súbito, sei: com mais ninguém,
ó meu amor!, com mais ninguém
repartirás o teu amor.

E se adormeço novamente
vou, tão feliz!, sem azedume
— agradecer-te, suavemente,
a tua morte que consente
tranquilidade ao meu ciúme.

David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"

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Quarta-feira, 7 de Outubro de 2009

night240.jpg image by aalmas

 

Anjo és

 

 Anjo és tu, que esse poder
Jamais o teve mulher,
Jamais o há-de ter em mim.
Anjo és, que me domina
Teu ser o meu ser sem fim;
Minha razão insolente
Ao teu capricho se inclina,
E minha alma forte, ardente,
Que nenhum jugo respeita,
Covardemente sujeita
Anda humilde a teu poder.
Anjo és tu, não és mulher.

Anjo és. Mas que anjo és tu?
Em tua frente anuviada
Não vejo a croa nevada
Das alvas rosas do céu.
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sôfrego pudor
Vela os mistérios damor.
Teus olhos têm negra a cor,
cor de noite sem estrela;
A chama é vivaz e é bela,
Mas luz não tem. - Que anjo és tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?

Não respondes - e em teus braços
Com frenéticos abraços
Me tens apertado, estreito!...
Isto que me cai no peito
Que foi?... Lágrima? - Escaldou-me...
Queima, abrasa, ulcera... Dou-me,
Dou-me a ti, anjo maldito,
Que este ardor que me devora
É já fogo de precito,
Fogo eterno, que em má hora
Trouxeste de lá... De onde?
Em que mistérios se esconde
Teu fatal, estranho ser!
Anjo és tu ou és mulher?
 

 

Almeida Garrett

 

publicado por AIMSF às 12:06
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