O maior engano do espírito é acreditarmos nas coisas porque queremos que elas aconteçam, e não porque tenhamos visto que elas existem de facto |
Bossuet , Jacques |
Dá-me vontade de te ter a meu lado
Vendo-te a olhar para mim
Sei que estou apaixonado
Mas não posso ficar assim
Deitado num rochedo canto para ti
Como um pássaro livre que voa sem fim
Porque é que a vida nos trama
Quando alguém se ama?
Ter de partir
E não poder sorrir
Porque é que choras?
Porque é que dizes o meu nome
Sem nunca me poderes tocar?Tenho saudades de te ver
Vontade de te abraçar
Sozinho tocando uma guitarra
Junto ao mar
Recordo-me de ti
E imagino porquê
A tua cara a flutuar
Porque é que a vida nos fascina?
Tantas vezes nos domina?
Acreditar que no amor
Não se sente a dor
Mas é mentira!
Mentira! Mentira!
A Mentira
Porque é que, na maior parte das vezes, os homens na vida quotidiana dizem a verdade? Certamente, não porque um deus proibiu mentir. Mas sim, em primeiro lugar, porque é mais cómodo, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória. Por isso Swift diz: «Quem conta uma mentira raramente se apercebe do pesado fardo que toma sobre si; é que, para manter uma mentira, tem de inventar outras vinte». Em seguida, porque, em circunstâncias simples, é vantajoso dizer directamente: quero isto, fiz aquilo, e outras coisas parecidas; portanto, porque a via da obrigação e da autoridade é mais segura que a do ardil. Se uma criança, porém, tiver sido educada em circunstâncias domésticas complicadas, então maneja a mentira com a mesma naturalidade e diz, involuntariamente, sempre aquilo que corresponde ao seu interesse; um sentido da verdade, uma repugnância ante a mentira em si, são-lhe completamente estranhos e inacessíveis, e, portanto, ela mente com toda a inocência.
Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'