"Desde que existe a morte, imediatamente a vida é absurda. Sempre pensei assim."
Amália
23 de Julho de 1920
6 de Outubro de 1999
Saudades de Amália
"Desde que existe a morte, imediatamente a vida é absurda. Sempre pensei assim."
Amália
23 de Julho de 1920
6 de Outubro de 1999
Saudades de Amália
Não rias de meus poemas,
nem te desfaças de meus versos...
Deles tu és o tema,
neles mantenho expressos
os mais nobres sentimentos,
os mais exauridos lamentos,
em cada linha, anexos,
em cada rima, impressos.
Não rias de meus poemas
que tua imagem desenham,
que ao te verem partir, emudeceram
e com teu abandono,
não querem mais fluir...
Não rias de meus poemas...
Tem pena...Sofrem por ti!
Tentam somente sobreviver,
pois o amor que os mantinha
acabou de morrer.
Não queria...
sofrer duras consequências,
atar-me de abstinências,
ter que roer os ossos,
captar dores e lamentos
meus, teus, nossos...
Não queria ...
ser tão incontingente,
rebelar-me com os problemas de toda gente,
ser um pouco mais complacente;
bradar alto o que sinto, o que sentes...
Não queria...
Ter esse sangue quente
que corre nas veias, borbulha inerente,
tropeça, recomeça
e segue sempre em frente.
Não queria...
Ser apenas uma voz ou porta-voz,
mas o coral de uma orquestra sinfônica
e em volume máximo deixar as pessoas atônitas.
Não queria que fosse assim...
Gentes se afastando,
amores se desgastando,
flores se fechando,
continentes se desagregando,
oceanos se revoltando,
planeta pedindo fim.
Não queria que fosse,
mas está sendo assim...
Aos poucos vão tragando
a vida que há em nós, em ti, em mim,
e toda a inconsciência se revela
nessa inconsequência que impera.
Ai de quem ama
Quanta tristeza
Há nesta vida
Só incerteza
Só despedida
Amar é triste
O que é que existe?
O amor
Ama, canta
Sofre tanta
Tanta saudade
Do seu carinho
Quanta saudade
Amar sozinho
Ai de quem ama
Vive dizendo
Adeus, adeus
Amemos!
POR QUE TARDAS, meu anjo! oh! vem comigo.
Serei teu, serás minha... É um doce abrigo
A tenda dos amores!
Longe a tormenta agita as penedias...
Aqui, ao som de errantes harmonias,
Se adormece entre flores.
Quando a chuva atravessa o peregrino,
Quando a rajada a galopar sem tino
Açoita-lhe na face,
E em meio à noite, em cima dos rochedos,
Rasga-se o coração, ferem-se os dedos,
E a dor cresce e renasce...
A porta dos amores entreaberta
É a cabana erguida em plaga incerta,
Que ampara do tufão...
O lábio apaixonado é um lar em chamas
E os cabelos, rolando em espadanas,
São mantos de paixão.
Oh! amar é viver... Deste amor santo
— Taça de risos, beijos e de prantos
Longos sorvos beber...
No mesmo leito adormecer cantando...
Num longo beijo despertar sonhando...
Num abraço morrer.
Oh! amar é ser Deus!... Olhar ufano
O céu azul, os astros, o oceano
E dizer-lhes: "Sois meus!"
Fazer que o mundo se transforme em lira,
Dizer ao tempo: "Não... Tu és mentira,
Espera que eu sou Deus!"
Amemos! pois. Se sofres terei prantos,
Que hão de rolar por terra tantos, tantos,
Como chora um irmão.
Hei de enxugar teus olhos com meus beijos,
Escutarás os doces rumorejes
D'ave do coração.
Depois... hei de encostar-te no meu peito,
Velar por ti — dormida sobre o leito —
Bem como a luz no altar.
Te embalarei com uma canção sentida,
Que minha mãe cantava enternecida
Quando ia me embalar.
Amemos, pois! P'ra ti eu tenho nalma
Beijos, prantos, sorrisos, cantos, palmas...
Um abismo de amor...
Sorriso de uma irmã, prantos maternos,
Beijos de amante, cânticos eternos,
E as palmas do cantor!
Ah! fora belo unidos em segredo,
Juntos, bem juntos... trêmulos de medo,
De quem entra no céu,
Desmanchar teus cabelos delirante,
Beijar teu colo!... Oh! vamos minha amante,
Abre-me o seio teu.
Eu quero teu olhar de áureos fulgores,
Ver desmaiar na febre dos amores,
Fitos fitos... em mim.
Eu quero ver teu peito intumescido,
Ao sopro da volúpia arfar erguido
O oceano de cetim
Não tardes tanto assim... Esquece tudo...
Amemos, porque amar é um santo escudo,
Amar é não sofrer.
Eu não posso ser de outra... Tu és minha,
Almas que Deus uniu na balça edênea
Hão de unidas viver.
Meu Deus!... Só eu compreendo as harmonias,
De tua alma sublime as melodias
Que tens no coração.
Vem! Serei teu poeta, teu amante...
Vamos sonhar no leito delirante
No templo da paixão.
Castro Alves
Eu deixarei que morra
em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinicius de Moraes
Que amor é esse, que nos torna enlouquente
Sem medo do amor, sem medo da gente
com toques perfeitos, e os beijos mais ardentes
Uma paixão avassaladora, um amor envolvente
O que é isso que nos protege,
É amor ou questão de pele?
Porque nossos peitos desatinam a bater
Por um sentimento que nem se pode ver
Porque esses arrepios, esses momentos perfeitos?
esses desejos infinitos, que não cabem mais no peito
como a gente pode viver assim?
dependente de outros.
A resposta ainda a procuro
Enquanto isso, viveremos
A mais estranha, e melhor sensação que se pode sentir.
Autor desconhecido
Vá!
Procure de uma vez o seu destino,
Acabe de uma vez com o desatino,
Acabe de uma vez com meu tormento
Liberta-me de tanto sofrimento,
Liberta-me de uma vez desta ilusão...
Vá!
E deixe-me no abandono da saudade,
Vejamos de uma vez a realidade,
Que se tornou a nossa união...
Vá!
Prometo-lhe não vou seguir teus passos,
Nem vou lhe implorar um último abraço,
Vou recolher-me no descanso da solidão...
Vá!
Mas vá com a certeza de não ter arrependimento,
Procure não lembrar-me com lamentos,
Procure não pensar em ter perdão.